24.11.07

Sombra das palavras

As palavras abandonadas em horas moribundas, gastas em rituais baldados… Palavras que colam o chão de sombras desconcertantes.
Deveria ter escrito, anotado cada instante em que o sentir era o único verbo, em que amar a única acção e o sonho era a única verdade. Deveria ter pregado na palavra os instantes em que envolveste meu nome em magia. Deveria ter travado o rolar dos dias, fixar o fascínio pelas coisas vividas, os olhares quentes, as ruas enegrecidas, a cidade da melancolia em que eu só me perdia...
Surripiaste as minhas palavras. Só a mim me pertenciam. Como ousaste tão soberba audácia?
Já nada me pertence... A não ser o permanente atar e reatar das palavras quebradas. Não as deixarei sucumbir em sombras fugidias.

19.11.07

A insónia

A insónia: obsessão em travar os pensamentos cravejados nas paredes nuas, nas frígidas grades da cama, nas pequenas dobras da fronha, na manta impetuosamente enrolada entre as pernas, deixando o corpo preso ao relento. Corpo que estremece a cada murmúrio esquecido, a cada esgueirar impiedoso de uma voz perdida… O corpo deixa-se viver na pérfida lembrança, naquela macerada dor que cruelmente rememora o não consumado, o não pronunciado, o não vivo…
À inquietude pertenço...



August 22nd 2007

16.11.07

A magia de S...

Fragmentos deambulantes, espelhos rasgados ,vagas melodias perdidas .. Expulsei esses sinais esquartejados que ousaram navegar sem rumo, sem linha... Empurrei-os a um frio padecer mas necessário. Podadas foram essas asas de frágil encanto.
Porquê?
Passei as horas tardias com ela… Murmurou-me no seu canto enlevos de fantasia .Um bailado tão doce de palavras ,cativas no meu ouvido...
Impregnou-me, linha a linha, traço a traço, um rosto singular, um rosto quase indescritível.
A cada lua negra, a cada rolar dos ponteiros, vislumbrei uma nova cor, uma expressão inigualável e inconfundível. Essa magia de S…
Passei as noites com ela, mais tarde o infinito dos dias.
Teus traços tornaram-se mais nítidos, mais vincados. És a verdade pura, jamais uma mera quimera de fantasia.
Cravejado em mim estava o teu semblante resplandecente, a firmeza do teu olhar, o requebrar dos teus gestos. Era não um sonho, eras tu! Essa magia de S…
A um passo de mim, procuro tocar esse teu rosto...... apenas pó de solidão.
Afinal, Sophia talhou-te engenhosamente em formas incorpóreas para meus fracos dedos. Não eras tu...
Sophia.
Ergueu em mim a vereda dos horizontes por principiar.